O papel do alimento como um dos mais relevantes fatores de promoção da defesa no organismo
“Que teu alimento seja teu remédio e teu remédio seja teu alimento.” A frase, dita por Hipócrates, médico e filósofo grego (460-377 a.c.) traduz a importância da alimentação como um dos principais pilares para a saúde e para o fortalecimento do sistema imunológico.
Para se ter uma ideia da magnitude de uma alimentação balanceada e nutritiva para a saúde, a dra. Maysa Bonfleur, médica do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Catarina (SP), explica que ela pode ajudar até mesmo a combater o câncer; assim como auxiliar na contenção de bactérias e vírus.
A médica afirma que há estudos que associam a má alimentação a doenças que têm por base a desregulação do sistema imune, como câncer, doenças inflamatórias e até mesmo transtornos psiquiátricos.
Isso porque as nossas células, tecidos e órgãos que compõem o sistema imune e todas as funções fisiológicas são constituídos por nutrientes vindos da nossa alimentação.
“As funções dos nossos órgãos são abrangentes e incluem a destruição inclusive de células cancerígenas a partir dos linfócitos T, além da regulação da nossa própria inflamação. Por isso a nutrição é a peça central de um sistema imune apto a proteger o organismo das mais variadas doenças. Dados recentes na literatura científica reforçam essa importância.”
Compulsão alimentar na pandemia
Mas se por um lado algumas pessoas tornaram-se ainda mais preocupadas com a saúde durante a pandemia de Covid-19, por outro há aquelas que desenvolveram distúrbios e compulsões alimentares, prejudicando ainda mais a própria saúde.
“A crise sanitária desencadeada pela pandemia gerou repercussões profundas nos hábitos alimentares. Confinamento, receio de adoecer e crise econômica são gatilhos que podem levar a comportamentos de compulsão alimentar e predileção por alimentos ultraprocessados, numa tentativa de manejo do estresse”, relata a médica.
Dra. Maysa esclarece que estes alimentos ultraprocessados, geralmente ricos em carboidratos de alto índice glicêmico e gorduras, de fato contribuem momentaneamente para a produção de serotonina (neurotransmissor com efeito positivo sobre o humor), o que nos leva a entendê-los como uma “automedicação” contra o estresse. “Mas apesar do alívio imediato estes hábitos favorecem o ganho de peso e aumentam o risco do diabetes e hipertensão arterial, fatores relacionados ao prognóstico desfavorável no contexto da Covid-19. “ Mas os problemas que estes alimentos acarretam não param por aí. “Excesso de açúcar, sal, gorduras e baixa ingestão de fibras favorecem disbioses, desequilíbrio das bactérias que compõem a flora intestinal. O intestino é um dos principais órgãos de defesa do organismo e precisa manter uma relação de equilíbrio com nossa microbiota. Essa interação é diretamente influenciada pela qualidade da nossa alimentação”, diz dra. Maysa. Veja como manter o intestino saudável aqui: Intestino saudável é a chave para o sistema imunológico forte.
As deficiências nutricionais são outros efeitos da compulsão pelos alimentos ultraprocessados, já que, com a ingestão destes, o indivíduo muitas vezes deixa de ingerir alimentos ricos em vitaminas e minerais. Mas qual seria o caminho a tomar para fortalecer o equilíbrio do sistema imunológico? Aqui estão os principais conselhos da dra. Maysa:
• Limitar o consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados, especialmente embutidos. São eles: salsicha, presunto, mortadela, bolachas, cereais matinais açucarados, salgadinhos, achocolatados, bebidas lácteas açucaradas, refrigerantes, sucos de caixinha entre outros.
• Evite dietas que excluem determinado grupo de alimentos: elas podem ter um impacto negativo sobre a imunidade e favorecer o desenvolvimento de distúrbios nutricionais.
• Priorize alimentos “in natura” ou minimamente processados (ver quadro).
• Algumas vitaminas e minerais são fundamentais para a adequada regulação do sistema imune. Na maioria das vezes uma dieta balanceada garante estes elementos (ver quadro 2).
• Práticas de estilo de vida saudável estão correlacionadas ao nosso sistema imune. Praticar atividades físicas, ter uma noite de sono reparadora, moderar o consumo de álcool e cessar o tabagismo são determinantes para a saúde. “Invista também em estratégias de autocuidado, procure atividades que tragam prazer, busque alternativas de contato social não presencial e sempre procure um profissional caso necessário”, conclui dra. Maysa.
Os principais macronutrientes neste quesito são:
- Proteínas de alto valor biológico (feijões, lentilhas, grão de bico, quinoa, carnes magras e ovos).
- Carboidratos ricos em fibras (grãos integrais); legumes, frutas, verduras.
- Lipídeos (castanhas, nozes, amêndoas, amendoim, óleo de peixe).
Você pode conferir outras dicas de alimentos que contribuem para a imunidade aqui: Os campeões da imunidade na quarentena.
De Olho nas Vitaminas e Minerais
A Sociedade Europeia de Segurança Alimentar elencou seis vitaminas e quatro minerais como micronutrientes fundamentais para a adequada regulação do sistema imune. São eles:
• Vitaminas: D, A, C, B6, B12 e folato.
• Minerais: Zinco, ferro, cobre e selênio.
Dra. Maysa explica que uma dieta balanceada garante todos estes elementos. “Por isso a suplementação destes nutrientes em pessoas sem deficiência comprovada não é recomendada. Mas naqueles indivíduos com deficiência nutricional, a causa merece ser investigada por um profissional. Fatores genéticos, condições ambientais (como poluição, por exemplo), ou até mesmo interações entre alimentos podem ser a causa da deficiência.”
Obs: Se você acredita ter alguma deficiência, ou alguma dúvida sobre a melhor maneira de suplementar a sua alimentação, não hesite em consultar o médico.