Considerada atualmente a doença mais incapacitante que existe, a depressão aumentou em nosso país depois da pandemia da COVID-19. Este é o mês para falar de sua prevenção, com informações claras e ações que estimulem o diálogo e o acolhimento
A campanha Setembro Amarelo é uma iniciativa de prevenção ao suicídio, diretamente ligado à depressão. Segundo dados divulgados em 2019 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o que coloca o Brasil no topo do ranking da América Latina[1]. A situação piorou ainda mais durante a pandemia da COVID-19[2], de acordo com pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Durante muito tempo, falar sobre a doença foi um tabu, mas esta barreira vem sendo derrubada e informações ligadas ao tema tem sido cada vez mais compartilhadas.
A psiquiatra e mestre em psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPQ- FMUSP), Lívia Beraldo de Lima Basseres, diz que o problema veio à luz principalmente depois que alguns artistas passaram a admitir sofrerem com a doença. Ela define a depressão como uma doença crônica recorrente que produz: alteração de humor, caracterizada por sentimentos de tristeza, perda de prazer em atividades que a pessoa antes gostava de fazer, sentimentos de dor, culpa, desesperança, baixa autoestima e alterações no sono. Para se diagnosticar a depressão essas alterações precisam estar presentes na maior parte do tempo, quase todos os dias, por um período de ao menos duas semanas.
Mas é importante saber diferenciar a depressão da tristeza, que é um sentimento transitório. “Na tristeza a pessoa ainda consegue ter conexão com a vida e com memórias positivas, e perceber a circunstância como temporal. Normalmente a tristeza está relacionada com algum evento estressor identificável, ao contrário da depressão.”
Dra. Lívia explica que existem vários fatores que podem estar associados à doença: genéticos, disfunção bioquímica, eventos traumáticos e estressores psicossociais. “As mulheres são mais vulneráveis aos estados depressivos, principalmente com as oscilações hormonais no período fértil.”
A publicitária Sabrina Guzzon descobriu a depressão somente depois de dois anos. “A minha depressão se apresentou de forma leve. E apesar de uma depressão mais aguda ser mais complicada, é também mais fácil de perceber. O fato de a minha ser leve dificultou a situação, porque muita gente achava que era besteira e porque fica mais difícil de você mesma perceber e procurar ajuda.”
Com a depressão vieram outros problemas. “Eu chorava todos os dias depois do trabalho, conseguia apenar trabalhar e dormir, comia muito. O distúrbio alimentar veio junto. E tive desordem do sono. Acabei pedindo demissão.”
Dra. Lívia explica que este é um sintoma comum, quando a pessoa passa a ter prejuízo no funcionamento de áreas da vida: trabalho, vida social. “Se deixou de render no trabalho, se atrapalha a vida social e as relações, é hora de procurar ajuda.”
Tratamento
O tratamento é multidisciplinar com um psiquiatra ou psicólogo, ou os dois juntos. Os profissionais estudam a necessidade do uso de medicamento e psicoterapia, avaliando cada caso.
“Depressão não é preguiça, loucura, não é falta de vontade ou de caráter. É uma doença causada por um desequilíbrio neuroquímico no cérebro. E, apesar de hoje falarmos mais, acho que é necessário um enfoque ainda maior”, lembra Dra. Lívia.
Outro estigma, segundo a psiquiatra, é em relação aos medicamentos. “Os antidepressivos não causam nenhum tipo de dependência. Eles são uma medicação segura e não vão mudar a essência da pessoa. Eles vão ajudar a sair do estado depressivo.”
A terapia, o psiquiatra e os medicamentos diários ajudaram Sabrina. Depois de pedir demissão e intensificar o tratamento, ela hoje está bem e trabalha na Organização Não Governamental Ame Sua Mente, cujo foco é a prevenção a este tipo de situação. “Tive muito apoio, mas nem todos têm a mesma sorte. Por isso resolvi fazer algo para ajudar outras pessoas”, revela.
A experiência também a levou a escrever o livro Emiliano (Editora
Giostri) em que conta a experiência sobre o assunto. “A falta de informação
gera tabus, principalmente porque as pessoas evitam falar sobre a depressão. Mas acho que já
melhorou. E a pandemia fez com que a saúde mental virasse uma pauta mais
importante, com certeza.”
Dra. Lívia salienta a importância do diagnóstico precoce. “É o melhor caminho para colocar a vida nos eixos e voltar a ter qualidade de vida. A depressão é uma doença como outra qualquer, como diabetes ou pressão alta. E é preciso também que os familiares tenham uma atitude empática, dando apoio.”
Sabrina concorda: “Além de um olhar muito atento a você, um autoconhecimento, é preciso confiar nas pessoas próximas. Normalmente amigos ou familiares percebem que você precisa de ajuda com mais facilidade. E se deve procurar ajuda profissional o mais rápido possível.”
Instituto Ame Sua Mente
Emiliano (Sabrina Guzzon)
Link para o livro:
http://lojavirtual.giostrieditora.com.br/Emiliano
Veja também como a alimentação pode ser uma aliada no combate da depressão:
https://www.tokiomarine.com.br/vidasaudavel/2020/09/16/depressao-alimentacao-como-aliada/https://www.tokiomarine.com.br/vidasaudavel/2020/09/16/depressao-alimentacao-como-aliada/
[1] https://veja.abril.com.br/saude/brasileiro-ainda-sabe-pouco-sobre-depressao-revela-ibope/
[2] https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/05/09/estudo-indica-aumento-em-casos-de-depressao-durante-isolamento-social