A “Novembro Diabetes Azul” é uma campanha mundial que ocorre em prol da conscientização sobre o diabetes. Saiba como prevenir e tratar a doença, cujo foco deve ser o tratamento multidisciplinar
Assim como no combate ao câncer de próstata, em novembro a cor azul também é utilizada para outra importante campanha: a de prevenção e combate ao diabetes. De acordo com a dra. Jacqueline Rizzoli, endocrinologista do Hospital São Lucas (PUC-RS) e diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), há hoje em nosso país 13 milhões de pessoas vivendo com a doença, o que representa 6,9% da população. E os casos seguem aumentando.
O impacto destes números frente à saúde pública é significativo, levando em conta os aspectos envolvidos tanto no cuidado quanto nas complicações decorrentes da doença. Dra. Jacqueline acredita que o diabetes esteja relacionado com o aumento de sobrepeso e obesidade no Brasil, cujo percentual chega a 60,3% da população brasileira, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019.
“Como o diabetes tipo 2 pode apresentar poucos sintomas no início, algumas pessoas levam anos até descobrirem a doença; portanto estes números são subestimados” alerta a endocrinologista.
O que é diabetes
O Diabetes melitus, nome científico do diabetes, é uma doença crônica que se caracteriza pelo excesso de açúcar (glicose) no sangue. O pâncreas do diabético não produz insulina suficiente ou o organismo tem resistência à ação desta insulina, o hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue e que transporta o açúcar para o interior das células.
Tipos de Diabetes
Diabetes Tipo 1
Corresponde a 5%-10% dos casos de diabetes. Aparece geralmente na infância ou adolescência, mas também pode ser diagnosticado em adultos.
“O organismo do portador de diabetes 1 desenvolve anticorpos que atacam as células beta do pâncreas, comprometendo a produção de insulina por este órgão. Com isso, pouca ou nenhuma insulina vai para o corpo e fica no sangue, ao invés de ser liberada como fonte de energia.
Sintomas:
- Fome e sede constante
- Vontade de urinar várias vezes ao dia
- Perda peso
- Fadiga
- Mudanças de humor
- Náuseas e vômito
Fatores de risco e tratamento
Dra. Jacqueline explica que muitas vezes não é possível detectar a causa do diabetes tipo 1. Ter algum familiar próximo com a doença pode caracterizar uma predisposição, assim como a presença de doenças autoimunes como vitiligo, tireoidite de Hashimoto e doenças reumáticas. Ocasiões de estresse agudo como acidentes, luto e separações traumáticas podem desencadear a doença, assim como algumas viroses.
Já o tratamento envolve medicação e muitas vezes mudanças na alimentação.
“Essa variedade é sempre tratada com insulina, dieta e a orientação para a prática de atividade física, que ajuda a controlar o nível de glicose no sangue.”
Diabetes Tipo 2
Já o diabetes tipo 2 ocorre, como explica a dra. Jacqueline, quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz (resistência à ação da insulina) ou não produz insulina suficiente para controlar a sua taxa de glicemia.
Cerca de 90% das pessoas apresentam este tipo de diabetes, que se manifesta principalmente em adultos. “Mas as crianças também podem apresentar, principalmente associado à obesidade.
Já nos adultos o sedentarismo, o consumo excessivo de alimentos industrializados e ultra processados, o estresse e o abuso de álcool são alguns dos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento do diabetes tipo 2”, conclui a médica.
Sintomas
- Fome e sede constante
- Vontade de urinar várias vezes ao dia
- Formigamento nos pés e nas mãos
- Infecções na bexiga, rins, pele e infecções na pele
- Feridas que demoram para cicatrizar
- Visão embaçada
Principais complicações:
Diversos órgãos do corpo podem sofrer complicações quando a glicose se mantém fora de controle por muitos anos. As principais complicações, segundo a Dra. Jacqueline, são circulatórias e neurológicas.
“São complicações graves e comprometem muito a vida do portador de diabetes, mas com um bom acompanhamento médico e adesão ao tratamento podem ser prevenidas e controladas.”
As complicações mais graves são:
- Lesões na retina, que podem levar à perda progressiva da visão.
- Alterações na filtração dos rins, que podem evoluir para insuficiência renal crônica e necessidade de hemodiálise.
- Problemas de circulação nas pernas com feridas que não cicatrizam
- Perda de sensibilidade e risco de amputações
- Infarto agudo do miocárdio
- Acidente vascular cerebral
Tratamento Multidisciplinar
Para prevenir, tratar e conviver da melhor maneira com o diabetes é preciso um tratamento multidisciplinar, que envolve mudanças de hábitos, privilegiando saúde e qualidade de vida e evitando os fatores de risco.
“O diabetes é uma doença que necessita de acompanhamento multiprofissional, uma vez que a base deste tratamento sempre será a modificação de hábitos alimentares, com uma dieta saudável, rica em nutrientes e com o acompanhamento de nutricionista. Isso inclui reduzir o consumo de açúcar simples e ter uma dieta rica em fibras e proteínas“, afirma a dra Jacqueline.
Para os pacientes com diabetes tipo 2 a médica diz incentivar a redução de peso. “Em alguns casos isso pode até reverter o diabetes. Já em outros, além da alimentação adequada e de exercícios serão necessários o uso de insulina e/ou outros medicamentos orais.” Estes medicamentos variam e estão sempre evoluindo, e cada caso deve ser avaliado pelo médico, de acordo com a endocrinologista. “Existem diversos medicamentos que isoladamente ou combinados ajudam a manter os níveis de glicose controlados”.
E dá para viver uma vida normal com diabetes? “O diabetes permite que pessoa viva bem e com uma excelente qualidade de vida. O diagnóstico precoce, assim como o combate à obesidade aliado a uma alimentação saudável são fundamentais para o adequado manejo do diabetes e para reduzir a sua prevalência,” conclui a médica.
Exames
Dra. Jacqueline afirma que toda pessoa adulta deve fazer exames laboratoriais a cada três anos para descartar diabetes. E se houver os fatores de predisposição, já citados anteriormente, o exame deve ser mais frequente (ver quadro).
Exames laboratoriais devem ser realizados com frequência se:
- Já houver diagnóstico de pré-diabetes (diminuição da tolerância à glicose ou glicose de jejum alterada).
- O indivíduo for portador de hipertensão arterial.
- Apresentar alterações de colesterol e triglicérides no sangue.
- O indivíduo for obeso ou estiver com sobrepeso, principalmente se a gordura for localizada em volta da cintura.
- Ter pais ou irmãos com diabetes.
- Mulher que teve bebê com peso superior a quatro quilos.
- Mulher que teve diabetes gestacional.
- Mulher portadora da síndrome de ovários policísticos.
- Pessoa com apneia do sono.
- Quem faz uso crônico de medicamentos que podem aumentar a glicose, como os glicocorticoides.
Diabetes Gestacional – Entenda
O diabetes gestacional se inicia normalmente após a 20ª semana de gestação e desaparece após o parto. Durante a gravidez a mulher passa por mudanças em seu equilíbrio hormonal para permitir o desenvolvimento adequado do embrião.
“A placenta é uma fonte importante de hormônios e substâncias que reduzem a ação da insulina. Para compensar este quadro o pâncreas consequentemente aumenta a produção de insulina. Quando este processo ocorre de maneira inadequada para algumas mulheres ocorre a diabete gestacional.
E por que é perigoso? “Quando o bebê é exposto a grandes quantidades de glicose ainda no ambiente intrauterino, há um maior risco de crescimento excessivo (a chamada macrossomia fetal); que pode dificultar o parto. Além disso há o risco de hipoglicemia neonatal e até de obesidade e diabetes na vida adulta,” explica a dra Jacqueline.
O tratamento pode incluir orientação nutricional adequada, medicamentos e indicação de atividade física, sempre com acompanhamento médico durante todo o processo de gestação.