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Doe Órgãos, Salve Vidas

por Andrea Alves
DOE ÓRGÃOS, SALVE VIDAS

A doação de órgãos é um ato de solidariedade, mas que ainda envolve muitos tabus. Saiba aqui alguns mitos e verdades

Desde o ano de 2017 que a doação de órgãos não é mais presumida, quando todos eram potenciais doadores[1]. Hoje, a lei concede o poder de decisão às famílias. É no momento da dor pela perda que eles serão questionados sobre a autorização da doação de órgãos e tecidos para transplantes. Por isso é importante estarem convictos da vontade do parente.

A doação de órgãos pode salvar não somente uma vida, mas várias. É o que explica Luciane Deboni, médica nefrologista e coordenadora dos transplantes da Fundação Pró-Rim. “Um único doador pode beneficiar até 10 pessoas que aguardam na fila do transplante, e esse número é muito grande. Podem ser doados o coração, rins, pulmão, fígado, pâncreas, pele, ossos e córneas.”

Ainda assim um dos principais motivos para a não doação é a negativa familiar, que pode chegar a 43% dos casos, de acordo com Maria Inês de Azevedo Carvalho, presidente do Instituto Gabriel.

“Uma das causas é a falta de conhecimento sobre o desejo do seu parente. Outra é porque as famílias ainda têm preconceito com o tema, pois remetem o assunto à morte. Mas todos iremos morrer, é imutável. O que fazer desse fato para beneficiar outro ser humano é uma escolha. Uma escolha de amor por alguém que depende da doação para continuar a viver”, diz Maria Inês.

Entre os tabus estão mitos do imaginário popular como a possibilidade de tráfico de órgãos e de que, em caso de morte encefálica, o doador possa voltar à vida.

“Isso é totalmente impossível”, rebate Maria Inês. “Para a doação acontecer é necessária a abertura do chamado Protocolo de Morte Encefálica, onde serão realizados exames de imagem comprovando que o cérebro parou de funcionar. Nas pessoas em coma existe atividade cerebral, enquanto na comprovação da morte encefálica essa atividade é inexistente.”

Além disso a declaração de morte encefálica precisa ser atestada por dois médicos diferentes, seguindo os critérios do Conselho Federal de Medicina.

Outro mito é o de que o corpo não pode ser velado ou cremado normalmente. A dra. Luciane esclarece: “A retirada dos órgãos é uma cirurgia como qualquer outra e não afeta a aparência do doador.”

E a doação envolve dinheiro? A resposta é não. “A doação é um ato de amor e solidariedade com o próximo. Nem a família do doador e nem quem recebe a doação tem qualquer tipo de custo. Assim como não terão nenhum ganho financeiro.”

Maria Inês esclarece que todo o processo é pago pelo SUS. “Em alguns municípios, como São Paulo, a legislação prevê um benefício para a família com os custos do funeral do doador[2].”

Quem Pode Doar?

Qualquer pessoa pode ser um potencial doador. O que determina essa possibilidade é a condição de saúde em que se encontra, de acordo com a avaliação da equipe médica.

Dra. Luciane explica que, em vida, uma pessoa saudável pode doar para um parente (ver quadro de órgãos que podem ser doados em vida). Já para doadores não parentes há necessidade de autorização judicial, aprovação da Comissão de Ética do hospital transplantador e da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, assim como de comunicação ao Ministério Público.

A médica esclarece que o melhor doador é aquele que, além da compatibilidade do tipo de sangue, tem os antígenos de histocompatibilidade mais semelhantes ao receptor, determinados por exame de sangue (tipagem HLA). “O melhor doador seria um gêmeo univitelino, porém é raro encontrar. Em segundo lugar vêm os irmãos com antígenos de histocompatibilidade idênticos; seguidos de irmãos com 50% de histocompatibilidade iguais ao receptor e aos pais. Depois vem o doador cadáver.”

 O doador falecido, como já foi dito, precisa que a família respeite o seu desejo.  “A abordagem familiar será feita pelo hospital, normalmente pela equipe de Comissão Inter Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes[3] (CIHDOTT)” afirma Maria Inês. “Mas há cidades menores em que o hospital pode não ter uma comissão dessas. Neste caso pode-se pedir ao serviço social do hospital, ou ao chefe da UTI, que acione a Organização de Procura de Órgãos da região.”

O Caminho para Receber

 “No centro transplantador será avaliado se o paciente tem condições de receber o transplante. Todo paciente entra na lista referenciado por uma equipe específica, porque quando chegar o órgão ele já vai estar preparado para o transplante.”, diz a dra. Luciane. Sobre o tempo de espera a médica avisa que pode variar. “Depende do órgão que a pessoa necessita. Durante esse período o paciente faz todo o acompanhamento com a equipe médica, até o momento do transplante.”

 A vida depois do transplante

Mariane Gabrielle Machado, de 22 anos, completou no dia 27 de setembro um ano de transplante renal. Depois de três anos e meio em tratamento de hemodiálise, ela conta que redescobriu a alegria de viver.

“Apesar de ter sido um período de recuperação e do surgimento da pandemia, foi um ano muito bom. Comecei a fazer atividade física, que antes não conseguia. Aproveitei o tempo com parentes e passei a perceber como a vida é boa e às vezes não sabemos valorizar. Gestos simples, como tomar banho e se arrumar sozinha, são vitórias.”

O diretor financeiro Guglielmo Trappani, de 46 anos, sabe bem o que é esperar na fila do transplante, onde esteve um ano e oito meses. “Sentia muita fraqueza. Era louco para tomar água, mas não podia tomar o quanto queria.” A família não poderia ser doadora, pois os parentes também tinham problemas de rim (a doença em seu caso é genética).

Foi quando se matriculou em um curso sobre Inteligência Emocional e conheceu o seu doador. “Quando contei a minha história e ele perguntou o que precisava para ser doador. Mas desconversei, não queria que achasse que eu estava pedindo algo.”

No outro dia a minha mulher disse que eu já tinha um doador. Achei que fosse brincadeira.” O policial militar de 35 anos, impressionado com a história, não teria dormido bem aquela noite e se ofereceu para ser doador. Guglielmo não queria aceitar. “Eu pensava que não teria coragem de tirar o rim de uma pessoa, me sentia culpado”. Mas a certeza do futuro amigo o convenceu – com uma mãozinha da esposa.

“Disse a ele que poderia desistir até o último minuto. E se no futuro o seu filho precisasse de uma doação? Ele respondeu que se isso acontecesse tinha certeza de que alguém faria pelo seu filho o que ele faria por mim.” Guglielmo hoje está bem, conta que reviu todos os seus valores e dá um conselho para quem está passando pelo mesmo problema: “Não desista! É uma fase. Tenha um enfoque positivo. Não veja a máquina de hemodiálise como uma inimiga, é algo que está salvando a sua vida.”

A venda de órgãos é ilegal no Brasil, conforme Lei Federal 9.434/97[4] e estabelece, entre outras coisas, que comprar ou vender tecidos, órgãos ou parte do corpo humano (artigo 15) é ação passível de pena de “reclusão de três a oito anos, e multa de 200 a 360 dias-multa”, conforme trecho da lei.

Fonte: Dra. Luciane Delboni – Fundação Pró-Rim

O que pode ser Doado em Vida

  • Um rim
  • Parte do fígado
  • Parte do pulmão
  • Medula óssea
  • Sangue

Fonte: Maria Inês Carvalho – Instituto Gabriel

Organizações Não Governamentais:

Instituto Gabriel

https://gabriel.org.br

Fundação Pró- Rim

www.prorim.org.br


[1] https://veja.abril.com.br/saude/decreto-de-temer-muda-regras-e-dificulta-doacao-de-orgaos/

[2] https://www.camaramontemor.sp.gov.br/menu-covid19/1166-camara-aprova-projeto-de-lei-que-preve-isencao-de-taxas-de-funeral-a-doadores-de-orgaos-de-baixa-renda

[4] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9434.htm

1 comente

Rodrigo rosa da silva 20 de janeiro de 2021 - 19:10

Gostaria de saber como doar plaquetad

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